“O erro como matéria-prima”, texto da exposição de Pedro Tudela "Re", Espaço Campanhã, Porto.

O erro como matéria-prima

Desde a década de 80 que Pedro Tudela desenvolve a sua prática artística em meios tão diversos como a pintura, o desenho, a fotografia, o vídeo e a instalação sonora, explorando de uma forma quase obssessiva conceitos tão difíceis como a doença, a dor, a morte, a violência, o acidente e, mais recentemente, a apropriação do espaço e a experiência sensorial.
Na exposição que agora apresenta no Espaço Campanhã, Pedro Tudela propõe nove peças inéditas - seis pinturas, duas esculturas e uma instalação sonora - nas quais utiliza o erro como ponto de partida, ou melhor, como conceito estruturante da exposição.
Ao entrar no espaço expositivo o espectador é confrontado com seis telas de grandes dimensões em que o erro (que mais não é do que a consequência de uma certa espontaneidade no processo de produção da obra), funciona como a alavanca para o passo seguinte na elaboração destas peças. O erro (calculado, note-se) é, assim, apresentado como o conceito definidor da composição pictórica.
É também de um erro, de um erro digital (o do som “re” - que dá título à exposição), que Tudela se apropria para a criação da instalação sonora que serpenteia pelo chão do armazém. A peça, constituída por vários cabos e oito colunas agrupadas duas a duas, emite incessantemente o som “re”. Tudela, cria, apesar de recorrer a um erro, um som harmonioso. E nem o emaranhado de cabos provoca no espectador a sensação de desorganização, a sensação de que algo pode estar errado.
Por último, e pontuando muito subtilmente duas das paredes do espaço, encontram-se duas esculturas. Nestas peças, mais uma vez, é o erro o factor motivador da construção da obra. Tudela utiliza objectos encontrados e eleva-os à categoria de obra de arte ao propôr uma nova leitura. Essa recontextualização é conseguida através da ampliação, num caso, ou acentuação, no outro, dos erros naturais (defeitos) dos objectos.
Neste projecto expositivo, Pedro Tudela apresenta uma proposta de reflexão diferente daquelas que tem vindo a apresentar – a do erro como factor determinante, como motor, para a construção da obra de arte. Uma proposta, enfim, amadurecida, porque só uma artista amadurecido (solidificado) consegue utilizar o erro como matéria-prima conceptual.

Março de 2010