“Entre a memória e o prognóstico”, in Catálogo da exposição “Circuitos de Repetição” do Coletivo Tempos de Vista, Fábrica Viarco e Oliva Creative Factory, S. João da Madeira
Entre a memória e o prognóstico
A exposição Circuitos de Repetição do Colectivo Tempos de Vista inaugurou uma parceria entre duas instituições emblemáticas de S. João da Madeira: a fábrica de lápis Viarco e a Oliva Creative Factory.
Esta parceria permite a artistas realizarem, quer na Viarco quer na OCF, uma residência que terá como corolário a realização de uma exposição.
Neste contexto ganhou particular interesse a proposta do Colectivo Tempos de Vista.
Conscientes da importância histórica e cultural dos espaços, o trabalho deste Colectivo tem-se construído a partir da reflexão sobre a relação que diferentes comunidades estabelecem com um determinado Lugar.
Circuitos de Repetição (Fábrica Viarco e Oliva Creative Factory, S. João da Madeira, 2015) é, assim, o quarto momento de apresentação de uma linha de investigação sobre esse tema – a relação das comunidades com o Lugar. Em todos os momentos desta investigação/ação, o Colectivo interveio artisticamente em espaços simbólicos para as comunidades que com eles se relacionam (ou relacionaram): o projeto de intervenção artística Mãe d’Água (Museu da Água, Lisboa, 2009/2010), o projeto Observatório Astronómico (Tapada da Ajuda, Lisboa, 2011), o projeto Carpintaria Mecânica (Museu da Carris, Lisboa, 2012).
A exposição Circuitos de Repetição reparte-se, portanto, entre estes dois locais históricos – Viarco versus Oliva. Na Viarco, Joana Gomes apresenta uma instalação, ou melhor, uma vídeo-escultura – uma (feliz) referência à obra de Tony Oursler – construída a partir de moldes da fábrica. Maria Sassetti apresenta uma pintura sobre a madeira usada para o fabrico dos lápis. Inês Teles apresenta quatro pinturas “expandidas” que se fundem com as máquinas da fábrica. Xana Sousa apresenta quatro obras: pintura, desenho, livro de artista e diário gráfico são as suas ferramentas operativas. Margarida Mateiro apresenta-nos uma instalação que convoca o processo produtivo dos lápis. Já na Oliva Creative Factory o Coletivo apresenta onze peças: desenho e pintura são as práticas apresentadas. Também aqui a relação que estabelecem com a memória do Local é evidente: quer seja através da referência à planta do edifício, quer seja através dos elementos dos azulejos do edifício, quer seja pelo recurso a materiais industriais.
Neste projeto, o Colectivo Tempos de Vista dá continuidade às propostas de reflexão que têm estado no cerne do seu trabalho. O projeto desenvolve-se enquanto tentativa de transporte (reflexão) do passado para a contemporaneidade, situando-se nesse lugar quase fantasmático que fica entre a memória e o prognóstico.
Raquel Guerra
Outubro de 2015